Um vô
Ele também gostava de passear, de festa, de reunir as pessoas e conversar. Quando éramos crianças, ele cantava para nos fazer dormir. Contava histórias e fazia brincadeiras.
Tinha uma que era assim. A gente esticava os pés e ele ia batendo de dedinho em dedinho, dizendo (uma sílaba para cada dedo):
Ti-ge-li-nha de á-gua fri-a
Que ca-iu da pra-te-lei-ra
Foi nos o-lhos de Ma-ri-a
Que cho-rou se-gun-da-fei-ra.
Dizia, num francês atravessado, que o cão é a virtude que não podendo se fazer homem, se fez besta. Com toda a seriedade, afirmava que as quatro coisas melhores do mundo são três: comer e dormir.
Precisou parar os estudos muito cedo, na terceira série primária. Mas sempre leu muito. A casa era cheia de livros. Não me lembro dele ter ficado algum dia sem ler jornal.
Era humano como todos nós, com defeitos e qualidades. Turrão, teimoso, emburrava e ficava sem falar quando discordava de alguma coisa. Mas era muito gente boa.
Se o vô Antonio estivesse vivo, hoje completaria 83 anos.
Quando ele morreu, o Pedro nem estava na barriga ainda. Tenho certeza que assim como adorava o Mimo — que ele só chamava de Pequeno Príncipe — ia adorar o Pepê também. Qual seria o apelido que ele daria ao Pedro, heim?!



2 Blá, blá, blá:
Certamente ele adora o Pepê da mesma forma que adora o primeiro neto.
Eu acho que ele pensaria em outro apelido legal para o Mimo (que já tinha crescido) e o Pepê herdaria o de Pequeno Príncipe, já que ele lembra bastante o personagem...
Ele ia ficar muito feliz e falar: Olha mais um para o concurso de perna de sabiá!
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