quinta-feira, novembro 10, 2005

Inculta e bela

Língua portuguesa
Olavo Bilac*

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

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(*) Poeta brasileiro, Olavo [Brás Martins dos Guimarães] Bilac nasceu no Rio de Janeiro, em 1865. É considerado o maior representante do parnasiano brasileiro. Publicou diversas obras, entre as quais Crônicas e Novelas (1893) e Poesias (1902). É o autor do Hino à Bandeira Nacional. Foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Morreu em 1918.

Aqui tem um dicionário online de língua portuguesa gratuito (português de Portugal).